sexta-feira, 6 de março de 2009

FM 299 - Estarão fazendo o mesmo?

N

a companhia do meu charuto, vivo matutando quanto à enorme distância qualitativa que separa os ensino público e privado e o que fazer para se dar um basta a tal estado caótico de coisas. Tais meditações me levaram a concluir que grande parte da responsabilidade cabe a pessoas como eu que, quando se trata da educação dos filhos, sempre têm virado as costas ao ensino público. Afinal, pensava, se tenho condições de matriculá-los em escolas particulares, por qual motivo irei “sacrificá-los”, na rede pública. Neste ano tomei uma decisão que não foi unânime na minha rede de relacionamento pessoal e familiar. Passei, como cidadão, a fazer meu papel pela transformação. Matriculei meu filho de 10 anos na rede estadual de ensino.

“Você está ficando maluco?”, tenho sido questionado. Não! Não estou maluco. Depois que ingressei na militância política, entendi que devo alinhar o discurso com a prática, exercer meu papel como agente social. Vendo de perto as deficiências do ensino público, passarei a atuar, dentro da escola, na luta pelas necessárias melhorias. A tarefa poderá parecer inglória, mas sei que valerá a pena.

Ao olharmos para nossa realidade constatamos que “talvez não haja maior prova de desapreço para com a educação com as crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios. Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos. É injustificado que depois de tanto tempo de proclamada a República, o Brasil continue tendo duas educações – uma para os filhos de seus dirigentes e outra para os filhos do povo – como nos mais antigos sistemas monárquicos, onde a educação era reservada para os nobres”.

As palavras do parágrafo anterior não são minhas. Faço-as. São do senador Cristóvam Buarque, justificando projeto encaminhado ao Senado em 2007, determinando a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até o ano 2014. E quando agora, acabo de tomar conhecimento do assunto, me dou conta das indiscutíveis consequências éticas, políticas e estratégicas que advirão se aprovada a iniciativa. Aí sim, quando as elites sentirem os problemas na própria pele, sumirão os discursos vazios e demagógicos. Teremos a solução para a escola pública.

Claro está que o comércio da educação privada irá bradar, espernear e tentar de todas maneiras inviabilizar a louvável idéia. Afinal, este filão milionário cresce dia a dia, a olhos vistos. Com a omissão e o beneplácito daqueles que têm a responsabilidade de dar o exemplo.

Meu charuto me parabeniza. Estou fazendo a minha parte. E, me pergunto, os homens públicos de nossas cidades, para não irmos mais longe, estarão fazendo o mesmo?

8 comentários:

www.eduardoleite.blogspot.com disse...

Parbéns pelo texto e sugiro também ao projeto do ilustre senador,Cristovão Buarque, que todo servidor público e politico ,quando necessitarem de assistência à saúde dirijam-se aos sistema SUS. Um forte abraço,

Eduardo Leite

Anônimo disse...

Enviada em: sábado, 7 de março de 2009

Hugo,

Curioso que, professora, primeiro do antigo ginásio, depois do colegial, finalmente desde 1974 na PUCSP, depois desde 1987 na UNICAMP, formando professores, inúmeras vezes pensei e disse algo semelhante ao que vc conclui: só qdo as classes médias tiverem que usar a escola pública surgirá uma pressão por sua melhoria. Veremos!

Vavy

Anônimo disse...

Enviada em: sábado, 7 de março de 2009

Meu caríssimo amigo Carvalho!

Louvo o teu artigo , que faz referência às duas educações praticadas, atualmente, no Brasil, segundo as palavras do Sen. Cristóvam Buarque: "uma para os filhos de dirigentes (escola privada)" e outra para " os filhos do povo " (escola pública).

Tu és corajoso , e eu tenho que seguir o teu exemplo: VALORIZAR A NOSSA ESCOLA PÚBLICA.

Carvalho! Ah, que saudade do nosso saudoso "JULINHO", colégio padrão do nosso Estado, onde tínhamos presentes as figuras de grandes Mestres da Educação como o Prof. MAGADAN , de Desenho Geométrico (com quem aprendi muitíssimo) e do Prof. CHEMELLO, de Química . Lembras -te?

Pessoas como tu é que o nosso Brasil precisa.

Estou aguardando, com muita curiosidade, qual o tema da tua "Fumaça Mágica nº 300".

Eu te parabenizo pela nº 299, mas me nego a render homenagem aos teus charutos.

Valdir

Anônimo disse...

Nobre Hugo, que maravilha de ideal!

Acostumado com o linguajar jurídico, a mim me restam apenas essas palavras: "Acompanho seu voto, digníssimo Relator!"

TFA
Russo
"quase anonimo" porque não possuo conta no blog

Anônimo disse...

Parabéns pela iniciativa, há poucos dias conversava com a minha mulher exatamente sobre isto.

Acredito que pessoas melhor preparadas em educação, cultura e instrução, e tendo seus filhos em escola pública, poderão acompanhar mais de perto suas deficiências, contribuir para sua melhoria e exigir mais do poder público. Acredito também que uma melhor aplicação dos enormes recursos aplicados e a eliminação dos “desvios” já trariam bons resultados imediatos.

Forte abraço,

Marcelo Aguiar Gomes
marcelo.gomes@uol.com.br

Anônimo disse...

Companheiro,

Estava para te enviar a integra do projeto do grande senador BUARQUE.

Educação é coisa que me interessa muito, principalmente a deseducação que fazem em nossa querida São Gonçalo dos Campos.

Eu , ná prática , já fiz isso que fizestes agora com teu filho. Os meus, não obstante ter alguma condição de educá-los em escolas particulares, fiz dos meus discursos a minha prática, tendo meus filhos estudado no POLIVALENTE, escola donde também saí.

Hoje, sinto-me feliz por ve-los encaminhados, vencedores, veja: Júnior, graduado em administraçao com análise de sistema; Érica, graduanda em fonoaudiologia; Elen , graduanda em biologia, na faculdade que possui o maior banco de semem vegetal do Brasil.(UEFS).

Só não podemos é continuar fazendo da educação um trampolim político, com professores e direção de escola sem experiencia e formação adequada para a função. Que não tenham a formação técnica, isso até nós qualificaremos mas, a formação moral é muito importante para nossas crianças.

Sds,

Liberdade, liberdade São Gonçalo!

Carlão.

Anônimo disse...

Querido Hugo.
Ontem vi que era seu aniversário aconteceu dia 11 , entretanto, aqui o ritmo está, digamos, "frenético".
Gostaria que você soubesse que continuo seu admirador.
Acompanho, como sempre, suas Fumaças Mágicas, que estão cada vez mais envolventes.
Nesta data, certamente comemorada devidamente, você se sinta abraçado por este amigo que conquistou há muitos anos aqui no Rio.
Tudo de bom,
Rubens Tinoco

Anônimo disse...

Caríssimo amigo/irmão Hugo,

Ensinei na Escola Pública por mais de doze anos; fui sempre distinguido por meus diletos alunos, pela minha seriedade e respeito aos princípios pedagógicos e aos mesmos.
Naquele período pude observar que os governos os enganavam, os professores, eram enganados e os enganavam (quase todos, infelizmente); e os alunos também procediam do mesmo modo, portanto com a mesma moeda.
Numa oportunidade, desejando passar de 20 para 40 horas semanais, de forma a ter uma aposentadoria melhor, após uma pesquisa que realizei com todos os alunos da 1ª a 4ª série do primeiro grau, constatando que todos estavam no mesmo nível de conhecimento da matemática, uma calamidade! Propus realizar um curso de recuperação intensivo, com entrega de Certificado aos que obtivessem êxitos nos testes, no primeiro ano para os alunos da 3ª e 4ª, deixariam a escola em melhores condições e no segundo para os alunos da 1ª e 2ª série. O Curso em questão seria no segundo ano, aberto a comunidade com preferência para ex-alunos. Nunca recebi resposta sobre a proposta! E o Estado me paga um salário mínimo, não fosse pelo plano de saúde, teria largado tudo.
O abandono Escolar era superior a 50% e uma das causas apontadas, o baixo nível das aulas (desestímulo), a merenda que logo se escasseava no segundo semestre, a falta de dinheiro para o transporte, etc...
Tais problemas são comuns, nas grandes cidades, temos problemas semelhantes em S.Paulo, Rio de Janeiro, etc. testemunho que os alunos do interior quase sempre eram um pouco melhor e até na letra se distinguiam. Por esta razão, o risco para suas crianças, pode ser menor, além do que suas ações podem até evitar alguma coisa, mas não tudo. Recomendo: NÃO SE DESCUIDE, PARA NÃO LAMENTAR DEPOIS!
Quando cheguei à Bahia, em Salvador, ano de 1953, as melhores escolas, que conseguiam ingresso de seus alunos na Universidade (UFBA), depois na UCS, eram Maristas, Vieira e COLÉGIO CENTRAL DA BAHIA. Nesta época em Salvador, não havia escola primária patrocinada pelo estado, com alguma exceção, as escolas eram de comunidades católicas em sua maioria. A falta de planejamento familiar levou a um aumento populacional vertiginoso, em decorrência, a proliferação de escolas públicas primárias e de primeiro grau de pouco nível; enquanto no Colégio Central da Bahia tínhamos professores advindos da Universidade, com o aumento vertiginoso do número de escolas (alunos), a improvisação do magistério foi um fato, até mesmo o Central foi atingido, agravado posteriormente pelo fechamento dos cursos que se destinavam a formação de professores, as bonitas normalistas, de ensino médio de alta qualidade, sito ICEIA (estadual) Mercês, N.Sª. CARMO e outras em Salvador, no Brasil, inúmeros.
Meu amigo levanta essa bandeira, mas creia não dá voto, veja o que ocorreu com Cristóvão Buarque.
O nosso popular Presidente, não o letrado que se foi, vem fazendo uma modernização, assim vou chamar, no terreno educacional e estão surgindo, ampliações de universidades, levando ao interior (precisamos observar se será mantida a qualidade do ensino); melhorias salariais para o professor, novas escolas técnicas (14 em construção), avaliações e metas para a educação. Não podemos perder as esperanças!
Há um provérbio Chinês diz: quer melhorar a educação dos seus netos, comece pelos seus avós.

Um forte e grande abraço deste que se chamava Prof. Cid, deste que ludibriou a Secretaria de Educação da Bahia e ensinou por mais sete meses, após ser excluído compulsoriamente do magistério por força de lei, sem que tivesse oportunidade de dizer que é lúcido, tem saúde, gosta de ensinar, não está cansado e queria continuar, pois amava tudo isso e principalmente o mais importante e razão da educação, seus alunos, dos quais nunca fui desrespeitado.

Você abriu espaço, eu entrei, seja feliz e faça tudo ai pela educação, base de todo progresso e desenvolvimento.

Com a estima do amigo

WALTER CID