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quase noite de uma sexta-feira. Dia da semana em que fervilha o calçadão da Praça Cazuza Machado, o mais importante “point” da minha São Gonçalo dos Campos da Bahia.
Aposto-me à minha mesa estratégica e predileta do bar Toca dos Amigos. Aqui, aliás, quase diariamente me entoco nos finais de tarde. Para, enquanto não chega algum amigo apreciador dos prazeres etílicos, dar-me ao prazer de escrever, fumando meu charuto ao ar livre, em meio ao burburinho do ambiente.
E, nas sextas-feiras tudo vai bem, no máximo até as vinte horas. Depois, começam a encostar mais e mais carros, com potentes sons instalados, cujos exibicionistas proprietários, curtem especial satisfação em ligar o volume nas alturas. Impõem aos outros, os seus gostos musicais, gostos sobre os quais dispenso comentários.
Agora então, quando a renda da população da base da pirâmide social tem, justamente, se elevado, acessando-lhes aparelhos de som custosos, estar em público tem se tornado um exercício de paciência quase insuportável.
Quem conhece a Bahia, bem conhece o fenômeno dos trios elétricos. Decibéis desrespeitando a capacidade humana auditiva parecendo desejar que o mundo todo os escute. Fizeram escola. Cada carro que aporta nas noites das sextas-feiras, aqui no calçadão da Cazuza Machado, é um verdadeiro minitrio-elétrico. As músicas tocadas se cruzam e se misturam, de leste a oeste, infernizando aqueles que apreciam o papo amigo e o bom sossego.
Converto-me em peixe fora da água. Mas, como a vida me ensinou a ser anfíbio, desligo os ouvidos. Deixo o barco correr e continuo fazendo crescer a cinza do meu charuto, casando tudo com o inaudível tilintar do gelo de meu uísque se desfazendo em água.
Menos mal que, até agora, ninguém chegou à minha mesa interrompendo o prazeroso (?) momento que me instigou este relato.
A praça se agita. Atestado que muitos da minha cidade apreciam o confuso burburinho. Ou – me indago – será que já se conformaram com tal estado de coisas?
Meu charuto terminou. Vou-me embora.