quinta-feira, 22 de outubro de 2009

FM 313 - Colar de Inspirações

A autora intitulou “Pérolas da MPB”. Eu intitularia “Fumaças mágicas da MPB”. De fato não é outra coisa.

Luzia Cedraz Pessoa, aqui de São Gonçalo dos Campos, amante da boa música brasileira, tanto quanto eu aprecio os bons charutos baianos, garimpou 48 versos entre os mais inspirados do nosso cancioneiro. Juntou-os num pequeno opúsculo para obsequiar amigos. Presente inesquecível. Tanto que me permito, com a devida autorização da pesquisadora, dividi-lo com os que amam as fumaças dissipadoras dos limites e delas fazem passaporte para momentos inesquecíveis.

Como afirmou Luzia na apresentação do seu trabalho, “a magia dos letristas que Deus nos presenteou com seus talentos” nos faz evocar momentos da vida, amores, ilusões, esperanças.

Selecionei vinte versos de distintos autores. Ei-los.

1. Tire seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor. (“A flor e o espinho” – Nelson Cavaquinho).

2. Detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes para esquecer. (“Detalhes” – Roberto e Erasmo Carlos).

3. As rosas não falam. Simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti. (“As rosas não falam” – Cartola).

4. Viver e não ter a vergonha de ser feliz. (“O que é o que é” – Gonzaguinha).

5. Quem sabe faz a hora não espera acontecer. (“Pra não dizer que não falei de flores” – Geraldo Vandré).

6. Hoje eu quero paz de criança dormindo. (“A noite do meu bem” – Dolores Duran).

7. Você é isso, parto de ternura, lágrima que é pura, paz do meu amor. (“Paz do meu amor” – Luiz Vieira).

8. Tem dia que a gente se sente como quem partiu ou morreu. (“Roda Viva” – Chico Buarque).

9. Mas a lua furando nosso zinco salpicava de estrelas nosso chão. (“Chão de estrelas” – Orestes Barbosa).

10. Me esqueci de tentar te esquecer, resolvi te querer por querer. (“Outra vez” – Izolda).

11. Fez nascer a eternidade num momento de carinho. (“Foi Deus que fez você” – Luiz Ramalho).

12. E quantos sonhos se tornaram esperanças perdidas. Que alguém deixou morrer sem ao menos tentar. (“Esperanças perdidas” – Adeilton Alves e Décio Carvalho).

13. Viver é melhor que sonhar. (“Como nossos pais” – Belchior).

14. Amigo é feito pra se guardar debaixo de sete chaves. (“Canção da América” – Milton Nascimento).

15. Ando devagar. Porque já tive pressa. Levo esse sorriso. Porque já chorei demais. (“Tocando em frente” – Almir Sater e Renato Teixeira).

16. E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Sem pedir licença muda nossa vida. Depois nos convida a rir ou chorar. (“Aquarela” – Toquinho).

17. Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas. Da força da grana que ergue e destrói coisas belas. (“Sampa” – Caetano Veloso).

18. E assim adormece este homem. Que nunca precisa dormir pra sonhar. (“João Valentão” – Dorival Caymmi).

19. E aí me dá uma inveja dessa gente. Que vai em frente, sem ter com quem contar. (“Gente humilde” – Garoto e Vinícius de Moraes).

20. Se eu fosse você eu voltava pra mim. (“Pra você” – Silvio César).

Fumaças tão inspiradoras para mim, quanto o são as dos meus charutos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

FM 312 - Famosos Baianos

Disponho de um acervo, ao qual denomino lítero-charuteiro, com algumas preciosidades, capazes de desvendar um pouco da história dos famosos baianos ainda não escrita. São folhetos, catálogos, listas de preços, boletins, que colecionei ao longo dos últimos trinta anos, muitos deles garimpados nos escaninhos das fábricas onde trabalhei. Outros há, fruto da minha atividade profissional, relatórios de viagens, balanços, planilhas de custos, atas de reuniões, estatísticas, fotografias, correspondências, folders, recortes da imprensa, reportagens, projetos, sonhos...

Um manancial de fatos e curiosidades sobre nossos charutos, à espera do momento certo para serem oferecidos aos pesquisadores e ao público leitor brasileiro. Tudo está devidamente embalado. Não só no sentido da embalagem como caixa, mas no significado de “embalar” ser o balançar carinhoso de um filho nossos braços, que é o que sinto ao manuseá-los. Mais ainda. “Embalar” também significa colocar balas. Deixar pronto para o disparo. Para deleite dos que apreciam se inebriar com as fumaças mágicas dos “rolinhos de satisfação”.

Enquanto isso volta e meia, na companhia do meu charuto, me comprazo em manusear tais páginas amareladas, retratos de pedaços da nossa história, esquecidos com o passar do tempo.

Neste instante, em momento de remexer saudades, debrucei-me sobre algumas de tais páginas da vida, ao buscar inspiração para escrever e sinto que continuo a testemunhar minha afeição pelos charutos da Boa Terra. Folheio agora uma coleção de valor inestimável: os boletins trimestrais que a antiga fábrica Suerdieck publicou no período de janeiro de 1949 a dezembro de 1959. Haja munição!

Já plantei milhares de cacaueiros, sou pai de dez filhos. Por isso, para completar minha caminhada, hora dessas quem sabe, tudo venha se transformar num livro. O livro dos famosos baianos.