terça-feira, 29 de dezembro de 2009

FM 315 - Adeus, Ano Novo

Em minha crônica anterior ao citar os versos “a gente não quer só comida, a gente quer diversão e arte”, fiz referência a Gonzaguinha, dando a entender seria seu autor ou intérprete. Atenta leitora do Recife, uma das minhas noras por sinal, alertou-me ser a letra da canção “Comida” de autoria de Marcelo Fromer, Arnaldo Antunes e Sérgio Brito, interpretada pelos Titãs. Portanto, meu público agradecimento à nora pernambucana.

Devo dizer que música nunca foi meu forte, nem minha vocação. Lembro-me que em 1954, ano da morte de Getúlio Vargas, estudando no Colégio São Francisco na cidade de Rio Grande, tínhamos uma disciplina denominada Canto Orfeônico. Entre outras coisas, havia os ditados musicais. Lá vinha o mestre marista, de batina preta, ditando para que registrássemos numa pauta, clave de fá, si bemol, ré sustenido, e por aí seguia a cantilena. Tínhamos que saber solfejar. Sofria horrores. Tanto quanto se hoje, tivesse que ser submetido a um ditado em grego, hebraico ou mandarim.

Confesso ter sido a única matéria na qual eu recorria à famosa “cola”. Cola que me evoca quadrinha então na moda: Escola, sem “es” é cola; escola sem cola não há; tirando a cola da escola; a turma não passará.

Portanto, entre minhas limitações muitas, sempre fui péssimo em assuntos ligados à música. Por isso as desculpas a meus leitores e leitoras, por haver confundido Gonzaguinha com os Titãs.

E já que o tema é música, avancemos. Não nutro simpatias por todos quantos levem música aos ouvidos do povo. Não, não me refiro aos que são intérpretes ou a aos que tiram acordes de instrumentos musicais. Não nutro simpatias por certa classe de políticos, hábeis no manejo “musical” das palavras, dizendo ao povo o que o povo gostaria de ouvir, não se importando se irão, ou não, cumprir suas entoadas promessas.

Dá-me um certo gosto masoquista ouvir tais cidadãos, quando inquiridos sobre seus pretensos rumos, ficar em cima do muro, aguardando a direção dos ventos para no derradeiro instante, apoiar o candidato que terá maiores chances de vencer.

Na Bahia de Todos os Santos, de Todos os Mistérios, de Todas as Crenças, de Todos os Charutos, vem sendo assim. Os oportunistas de carreira, não pertencentes ao partido político do atual Governador, candidato à re-eleição, elogiam-no e, ao mesmo tempo, acendem velas e incensos a outros contendores. O quadro, aqui na minha querida São Gonçalo dos Campos, não foge à regra.

Espertos como eles só, na orquestração da caminhada, compõem-se agradando a uns e a outros. Na hora “H”, dentro dos limites impostos pela legislação eleitoral, ouvidos os ibopes da vida, descambam com armas, bagagens, currais e paus-mandados para a banda do virtual vencedor, intitulando-se aliados da primeira hora.

Senhores que só aceitam opiniões por si ditadas costumam chamar de “caras de pau” aos que, politicamente, não rezam por suas cartilhas. Compreende-se. Ao dizê-lo estão se mirando nos espelhos de suas próprias vidas.

Valem-se dos dinheiros havidos pela dominação e pelo senhorio para se manterem na crista da onda junto ao poder. E o povão, que se informa pelas mídias por eles controladas, acha-os maravilhosos. E neles vota, perpetuando o esquema de subserviência. Até quando?

Do jeito como as coisas andam, ao menos para os que almejam que o novo ano seja ano de transformações e separação do joio do trigo, ao soar a meia noite do próximo 31 de dezembro, em vez do tradicional Adeus, Ano Velho, melhor será dizer-se Adeus, Ano Novo.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

FM 314 - Feliz Natal Básico


São Gonçalo dos Campos, contrariando a regra cultural da civilização cristã, não se iluminou, nem se engalanou neste Natal. Quem frequenta as noites são-gonçalenses deste final de ano, ao menos até agora, não é brindado com as festivas luzes, cores e símbolos que costumam despertar na cidadania, sentimentos de paz e de fraternidade.

A ausência das emblemáticas manifestações alusivas à data faz pairar no ar certa sensação de desencanto e vazio no espírito coletivo. É como se estivesse faltando algo. Cessa tudo.

Em contrapartida o Governo Municipal ao não investir na decoração natalina, optou por distribuir 4 mil cestas básicas, certamente para a população de baixa renda, mais necessitada. Uma inédita medida que não preenche o vazio acima aludido posto que, para tudo na vida, há um tempo certo. Já imaginaram se todas as cidades brasileiras que se ornam para o Natal, adotassem igual procedimento?

Neste momento, aqui no meu recanto de meditações, meu charuto-companheiro me indaga quanto à justeza da iniciativa, anunciada em singelas placas colocadas nos dois principais acessos da cidade, levando-me a algumas ponderações.

Quatro mil cestas básicas, em tese correspondem a quatro mil famílias. Quatro mil famílias, tomando-se como base quatro membros por família, significa que, indiretamente, algo ao redor de 16 mil pessoas serão brindadas com o inusitado presente natalino.

Por outro lado, considerando-se que somos cerca de 32 mil são-gonçalenses, sou levado a concluir que metade de nossa população se encontra na faixa limiar da pobreza, assim fazendo jus ao recebimento de uma cesta básica. Tudo bem! Vá lá que seja! Somos pobres mesmo.

Agora, fica a indagação sobre a composição e respectivo valor da cesta básica municipal para que os cidadãos possam tomar conhecimento do montante investido, em substituição aos gastos com a decoração da cidade. Espera-se também, a título da transparência das contas públicas em dias de modernidade, que se publique em mídia eletrônica, a relação das quatro mil famílias beneficiadas e que, sejam quais forem os resultados da medida, isto não vire modismo.

Os gastos com a cultura de um povo podem parecer supérfluos ou desnecessários, mas não o são. Um povo sem cultura é um povo sem identidade. Como diria o saudoso Gonzaguinha, “a gente não quer só comida, a gente quer diversão e arte”.

Este ano, portanto, fujo à regra e seguindo o que acontece por aqui, desejo a todos os que me lêem um Feliz Natal Básico.